terça-feira, 21 de janeiro de 2020

SOFRIMENTO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO - Parte 1



1º sofrimento — Pena dos sentidos

Ó meus caros mortos, se para meu coração toda a pena fosse a da separação, seria cruel, por certo; mas o pensamento de comunicar convosco pela oração, e ainda mais a ideia de vos tornar a ver no Céu, e de vos tornar a ver mais santos e mais amantes, aliviaria esta dor; mas, ah! este mesmo pensamento que me dá a esperança de vos tornar a ver, leva-me a contemplar-vos nas chamas do Purgatório, sofrendo e consternados.
Não escutarei a imaginação, que poderia levar-me além da realidade; quero ouvir os santos, e o que me dizem eles acerca do que vós sofreis, é bastante para excitar a minha compaixão, e obrigar-me a socorrer-vos.
«Reuni, diz Santa Catarina de Gênova, todas as penas que os homens têm sofrido, sofrem e sofrerão, desde o principio do mundo até o fim dos tempos; juntai todos os tormentos que os tiranos e os algozes têm feito sofrer aos mártires; será uma pálida imagem dos tormentos do Purgatório; e, se às pobres encarceradas fosse permitida a escolha, prefeririam aqueles suplícios durante mil anos a ficarem no Purgatório mais um dia; porque, diz S. Tomás, o fogo que os envolve é o mesmo que atormenta os condenados no inferno, e esse fogo, oh, é terrível!»
Deus, escolhendo o fogo, soube achar um reparador digno de sua justiça!
Não há dor, dizem os que têm estudado a natureza desse elemento, que iguale a que ele causa. Não objeteis que o corpo não está no Purgatório: a dor, diz S. Tomás, não é o golpe que se recebe, mas a sensação dolorosa desse golpe. Quanto mais delicadeza há nessa sensação, mais viva é a dor, e a alma, ainda sendo ferida, ela sozinha experimenta ao mesmo tempo a aflição que lhe fariam sofrer todos os membros do corpo atacados separadamente. Esse fogo do Purgatório, cuja natureza não conhecemos, dotado por Deus de uma espécie de inteligência para esmerilhar nos recessos da alma e consumir todas as manchas que lhe deixou o pecado, obra ao mesmo tempo sobre a imaginação e a memória, sobre o juízo e a vontade... Não aprofundemos mais este ponto; porém, fixando a atenção, escutemos o grito pungente que, do fundo desse abismo de fogo, vem até nós: Eu sofro, sofro muito no meio destas chamas: uma gota d'água! uma prece, por piedade!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Felicidade de ser útil aos mortos

                         Felicidade de ser útil aos mortos



«Oh, se tudo estivesse acabado para sempre, se eu não pudesse me ocupar mais dele, se não tivesse mais o prazer, não digo só, de torná-lo a ver no Céu, mas de lhe ser ainda útil durante o resto de minha vida, como seria isto cruel!» dizia uma pobre mãe junto ao corpo inanimado de seu filho. Deveria ser muito doloroso, sim; mas consolai-vos, pobres filhos, vós podereis ainda ser úteis àqueles que a morte vos roubou, podeis ajudá-los a mais depressa ganhar o Céu! A Igreja compreendeu essa necessidade de vosso coração e deu alimento a vosso amor. 
A morte separa: parte os laços materiais que nos prendiam uns aos outros; não dissolve os laços imateriais que ligavam uma alma a outra alma, um coração a outro coração. Está longe, não está perdido: é o grito da alma cristã, e assim, um pai, uma mãe, um filho podem sempre ocupar-se daqueles que amavam, quando os possuíam consigo, e que ainda prezam, mesmo sem os verem. Os atos de dedicação, de que foram cheios os vossos dias e que tinham por objeto fazê-los felizes, podeis praticá-los ainda, e, oferecendo-os a Deus pelo repouso dessas almas, vós continuareis a trabalhar em sua felicidade. O trabalho material que fazíeis por eles podeis prossegui-lo ainda em sua intenção, e o fruto lhes será aplicado pela misericórdia divina. As riquezas que acumuláveis para eles, podeis juntá-las ainda, e o que em seu nome distribuirdes aos pobres, lhes há de ser comunicado por Deus de um modo muito mais útil do que vós mesmos o teríeis feito. «Conheci, diz o Visconde Walsh, um luterano que, por amor de nossa crença no Purgatório, se fez católico. Perdera um irmão querido no meio de um banquete e lembrava-se a cada instante, dessa passagem tão brusca de uma orgia para o fundo de um féretro. Ah! disse-me ele num dia de finados, por causa de meu irmão vou me fazer católico... Quando me for permitido rezar por meu irmão, então respirarei, viverei para pedir todos os dias o Céu para aquele a quem tanto estimei na terra. Vossa Igreja faz que os seres que se prezam possam ajudar-se mutuamente ainda depois da morte. Vossas orações tiram ao sepulcro sua mudez pavorosa, Vós conversais ainda com os que já partiram desta vida; conhecestes a fraqueza humana, essa fraqueza que não é crime, mas ainda menos é a pureza; e, entre os limites do Céu e do inferno, Deus vos revelou um lugar de expiação, o Purgatório. Meu irmão está aí, talvez: eu me faço católico para libertá-lo dessa prisão para me consolar neste inundo, para me aliviar deste peso que me oprime, peso que eu não sentirei mais, quando me for dado orar.»

domingo, 19 de janeiro de 2020

Salvo pelas almas do purgatório

Nos arredores de Roma vivia um moço cuja vida de escândalos e de pecados era bem conhecida de todos. Todavia, o infeliz, apesar de tão pecador, con­servava a fé e não deixava a devoção de sufragar quanto podia as almas do purgatório. Mandava cele­brar Missas por elas, rezava e dava esmolas aos po­bres nesta intenção. Era a única prática de piedade em meio de tantos pecados. Naturalmente, este moço com seu temperamento arrebatado e valentão, tinha grande número de inimigos, e andavam estes plane­jando matá-lo em um momento oportuno. Sabiam os inimigos que havia de passar ele pela estrada de Trivoli e preparam-lhe uma emboscada. Ao se aproxi­mar da estrada, numa encruzilhada perigosa, a ca­valo, deu com um pobre moço enforcado numa árvo­re. Era um criminoso condenado à morte, cujo cadá­ver ainda pendia para escarmento dos bandidos. O jovem tinha costume de nunca deixar de rezar pela alma de quantos via mortos. Parou, desceu do cava­lo, ajoelhou-se diante do cadáver e rezou por aquela alma. Uma voz misteriosa se ouviu: desce e corre, porque te perseguem! Assustado, desceu, correndo pela estrada. Os inimigos descarregaram as armas e como viram o cadáver do enforcado caído, julgaram ser o jovem, e fugiram às pressas.

Uma voz se fez ouvir, então, ao jovem: meu amigo, aquela descarga deveria te matar e lançar tua alma pecadora no inferno. A misericórdia de Deus te salvou pela caridade que praticas para com as al­mas do purgatório. Elas te socorreram. Muda de vida enquanto é tempo.

O moço, todo contrito e sinceramente arrependi­do da sua má vida, resolveu deixar o mundo; entrou numa ordem austera, fez penitência e levou vida san­ta até o fim dos seus dias. — (Citado por Rossingnoli, 5.ª maravilha — e J. B. Manni, Sacra Trig. Disc. 12.).

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

LIÇÕES DADAS PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO PARTE 2

II. Reparar os pecados pela penitência



Santa Brígida viu, um dia, ante o Soberano Juiz, uma alma do Purgatório, que estava trêmula e confusa e a quem era intimada que declarasse publicamente os pecados que não tinham sido seguidos de penitência suficiente e que lhe haviam merecido a punição que sofria. A alma exclamava com uma voz que cortava o coração: Infeliz de mim, infeliz! — e em soluços, fazia a enumeração de tudo o que a manchava e prendia tão longe do Céu. Não reproduziremos essa visão, mas dela extrataremos a relação das principais faltas que, como vermes roedores, torturam uma pobre alma do Purgatório. «Perdi meu tempo, esse tempo bem precioso do qual todos os momentos podiam servir para expiar meus pecados, praticar uma virtude, merecer o Céu: eu o perdi em conversações fúteis, em ocupações banais e sem objeto, em leituras recreativas demasiado prolongadas; — é por isso que sofro! Esqueci por negligência minhas penitências sacramentais: as fiz mal por dissipação, e aceitei-as sem espírito de fé: — é por isso que sofro! Caí em murmurações contra meus superiores, meu confessor, meus parentes; murmurações leves, sem dúvida, mas partidas do amor próprio magoado, da falta de respeito, do ciúme; — é por isso que sofro! Consenti em pensamentos de vaidade a respeito do trajar, sobre os acessórios da casa, acerca de predicados de família; vesti-me com orgulho, segui as modas com ostentação, afetei um asseio exagerado; — é por isso que sofro.
Eu me proporcionei, sem nenhuma necessidade, pequenas sensualidades durante minhas refeições e fora delas, num viver voluptuoso e descuidado, num zelo excessivo do bem estar, no abuso do descanso corporal, na fuga de tudo que naturalmente modificaria os sentidos;— é por isso que sofro! Em conversação, atirei ditos espirituosos com o fim de ser elogiado, apreciado, distinguido, e para brilhar mais que os outros; — é por isso que sofro! Faltei à caridade que me chamava em socorro do próximo: faltei à caridade, deixando de o consolar, de o defender, de o aconselhar ao bem; conservando voluntariamente um pequeno pensamento de rancor, de inveja; — é por isso que sofro! Omiti por negligência e incúria muitas comunhões que me eram permitidas: fui remisso em minhas devoções, pouco aplicado em meu terço e na oração; — é por isso que sofro!» Meu Deus! como estas confissões me instruem!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

LIÇÕES DADAS PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO PARTE 1

I. Horror ao pecado

ue boas lições, diz o Padre Faber, podemos retirar da meditação do Purgatório! A primeira, a que domina todas as ou traz, é o amor da pureza, em geral, e como consequência, o temor de ofender a Deus, a fuga das ocasiões do pecado, — o desejo de mortificar-se para expiar as próprias faltas, — o zelo em ganhar as indulgências.
Apenas desprende-se do corpo, a alma se encontra, sem poder explicar como se dá isto em face de Deus, a quem vê, a quem conhece... e sente-se naturalmente atraída a ele com uma violência que nada tem de comparável na terra... Mas, de repente, revela-se-lhe a pureza de Deus, — essa pureza que é alguma coisa de indizível em linguagem humana, e, conhecendo-se ainda maculada, embora levemente, concebe tal horror de seu estado e logo tal desejo de se purificar para se unir a Deus, que se precipita incontinente nas chamas do Purgatório onde espera a sua purificação. Assim entende Santa Catarina de Gênova, a qual acrescenta: «Se esta alma conhecesse outro Purgatório mais terrível, em que se purificasse mais depressa, aí é que ela se arrojaria na veemência de seu amor por Deus. Havia de preferir mil vezes cair no inferno a comparecer ante a Divina Majestade com a mais ligeira mancha.» E, no Purgatório, essa alma justa e amante deixa de olhar tudo o mais para fixar duas coisas: a pureza de Deus a quem ama, e a necessidade de se tornar digna dessa pureza. Entretanto, sofre, e sua dor é tanto mais viva quanto ela ignora completamente quando cessará o exílio que a tem longe de Deus! Diz ainda Santa Catarina: «É tão cruciante a pena, que a língua não pode exprimi-la, nem a inteligência conceber-lhe o rigor. Conquanto Deus em sua bondade me tenha permitido entrevê-la um instante, não a posso descrever... Todavia, se uma alma, que ainda não está purificada, fosse admitida à visão de Deus, sofreria dez vezes mais do que no Purgatório; porque não estaria em condições de acolher os efeitos dessa bondade extrema e misericordiosa justiça. » Não é verdade que tal doutrina nos faz temer a menor falta e amar cada vez mais a pureza? Roguemos às almas do Purgatório que nos alcancem o horror do pecado.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Se soubes­sem o que é o purgatório, haviam de sofrer tudo, tudo para evitar e para aliviar as almas que lá estão ca­tivas.

A Obra Expiatória de Montligeon publicou com aprovação da autoridade eclesiástica, o seguinte fato:

No mês de Setembro de 1870, uma religiosa do Mosteiro das Irmãs Redentoristas de Malines, na Bélgica, sentiu repentinamente uma profunda tristeza que não a deixava dia e noite. A pobre Soror Maria Serafina do Sagrado Coração tornou-se um enigma para si própria e a comunidade. Pouco depois, chega a notícia da morte do pai da boa Irmã, nos campos de combate. Desde este dia, a religiosa começou a ouvir gemidos angustiosos e uma voz que lhe diz sempre:

— Minha filha querida, tem piedade de mim! Tem piedade de mim!

No dia 4 de Outubro novos tormentos para a Irmã e uma dor de cabeça insuportável. No dia 14 à noite, ao deitar-se, viu ela entre a cama e a parede da cela o pai cercado de chamas e imerso numa tris­teza profunda. Não pôde reter um grito de dor e de espanto. No dia 15 à mesma hora, ao recitar a Salve Rainha, viu de novo o pai entre chamas. A esta vista, perguntou a Irmã ao pai se havia ele cometido algu­ma injustiça nos seus negócios.

— Não, responde ele, não cometi injustiça al­guma. Sofro pelas minhas impaciências contínuas e outras faltas que não te posso dizer.

No dia 27, nova aparição. Desta vez não estava cercado de chamas. Queixou-se de que não era ali­viado porque não rezaram bastante por ele.

— Meu pai, não sabes que nós religiosas não po­demos rezar o dia todo, temos os trabalhos da Regra?

— Eu não peço isto, diz ele, quero que apliquem por mim as intenções, as indulgências. Se não me ajudares, eu te hei de atormentar. Deus o permitiu! Oh! Minha filha, lembra-te que te ofereceste a Nosso Se­nhor como vítima. Eis a consequência. Olha, olha, mi­nha filha, esta cisterna cheia de fogo em que estou mergulhado! Somos aqui centenas. Oh! Se soubes­sem o que é o purgatório, haviam de sofrer tudo, tudo para evitar e para aliviar as almas que lá estão ca­tivas. Deves ser uma religiosa muito santa, minha filha, e observar bem a Santa Regra, ainda nos pon­tos mais insignificantes. O purgatório das religio­sas, oh! É uma coisa terrível, filha!

Soror Maria Serafina viu, realmente, uma cister­na em chamas donde saiam nuvens negras de fumo. E o pai desapareceu como que abrasado, sufocado horrorosamente, sedento, a abrir a boca mostrando a lín­gua ressequida:

— Tenho sede, minha filha, tenho sede!

No dia seguinte a mesma aparição dolorosa:

— Minha filha, há muito tempo que eu não te vejo!

— Meu pai, ontem mesmo...

— Oh! Parece-me uma eternidade... Se eu ficar no purgatório três meses, será uma eternidade... Estava condenado a diversos anos, mas devo a Nossa Senhora, que intercedeu por mim, ficar reduzida a pena a alguns meses apenas.

Esta graça de poder vir pedir orações, o bom homem alcançou pelas suas boas obras, pois era ex­tremamente caridoso e devoto de Maria. Comunga­va em todas as festas da Virgem e ajudou muito na fundação de uma casa de caridade das Irmãzinhas dos pobres da Diocese.

Soror Maria Serafina fez diversas perguntas ao pai:

 As almas do purgatório conhecem os que re­zam por elas e podem rezar por nós?

—Sim, minha filha.

— Estas almas sofrem ao saberem que Deus é ofendido no meio de suas famílias e no mundo?

— Sim.

A Irmã, orientada pelo seu confessor e pela Su­periora, continuou a interrogar o pai:

— É verdade, meu pai, que todos os tormentos da terra e dos mártires estão muito abaixo do sofri­mento do purgatório?

— Sim, minha filha, é bem verdade tudo isso. . .

Perguntou se todas as pessoas que pertencem à Confraria do Carmo são libertadas no primeiro sába­do depois da morte do purgatório.

— Sim, respondeu ele, mas é preciso ser fiel às obrigações da Confraria.

— É verdade que há almas que devem ficar no purgatório até cinquenta anos?

— Sim. Algumas estão condenadas a expiar os seus pecados até o fim do mundo. São almas bem culpadas e estão abandonadas. Há três coisas que Deus pune e que atrai a maldição sobre os homens: a violação do dia do domingo pelo trabalho, o vício impuro que se tornou muito comum, e as blasfêmias. Oh! Minha filha, as blasfêmias são horríveis e pro­vocam a ira de Deus.

Desde este dia até à noite de Natal, sempre aparecia a Soror Maria Serafina a alma atormentada do seu bom pai, pela qual ela e a comunidade oravam e faziam penitências. Na primeira missa do Natal, a boa Irmã viu seu pai à hora da elevação, brilhante como o sol, de uma beleza incomparável.

— Acabei meu tempo de expiação, filha, venho te agradecer e às tuas Irmãs as orações e sufrágios. Rezarei por todas no céu.

E ao entrar na cela, de madrugada, viu a Irmã Serafina mais uma vez a alma do pai resplandecente de luz é de beleza, dizendo:

— Pedirei para tua alma, filha, perfeita conformidade com a vontade de Deus e a graça de entrar no céu sem passar pelo purgatório.

E desapareceu num oceano de luz e de beleza.

Estes fatos se deram de Outubro a Dezembro de 1870 e passaram pelo crivo de um severo e rigoroso exame das autoridades eclesiásticas antes de serem publicados e divulgados amplamente pela Obra Expiató­ria de Nossa Senhora de Montiglion, na França.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

4° Motivo para Socorrer as Almas do Purgatório

Quarto motivo: O julgamento que nos espera após a morte

Ouvi estas palavras do Evangelho: O que fizerdes ao mínimo dos meus, é a mim que o fazeis. — Sereis medidos com a mesma medida de que houverdes usado com outros. Virá um dia, e talvez esse dia não esteja longe, em que estareis vós mesmos no lugar da terrível expiação. Conhecereis então, por uma experiência pessoal e dolorosa, o que é o Purgatório; e, como as pobres almas que lá sofrem a esta hora, clamareis com um acento aflitivo: — tende piedade de mim, tende piedade! E, por uma justa permissão divina, estes gritos despedaçadores penetrarão na alma daqueles a quem vos dirigirdes na medida em que agora as súplicas das almas calam em vosso coração: esquecestes? sereis esquecido!; repelistes como importunos seus pedidos de orações? vossas instâncias também serão repelidas; — não quisestes sofrer uma privação para dar uma esmola em favor dos mortos? não se fará esmola em vosso beneficio. E assim ficareis só, sem amigos, obrigado a permanecer no fogo purificador até expiardes vós mesmo ainda a mais pequena mancha. E, mesmo quando, mais caridosos que vós, vossos parentes intercedessem por vosso livramento, Deus, árbitro supremo da aplicação de seus sufrágios, quiçá não vos deixará sentir em toda sua medida os efeitos de uma caridade da qual vos tornastes tão pouco digno. Oh! não nos coloquemos em condições de ser assim abandonados!
Mas, se houverdes sido bom, dedicado, generoso com essas pobres almas, é Deus — Ele o disse — é Deus mesmo que vos retribuirá, e no cêntuplo, o que tiverdes feito em seu nome pelos seus, e, até dado que vossos parentes e amigos vos abandonem, Deus suscitará boas almas que hão de orar e expiar por vós; ou, talvez, por uma abundância de graça toda especial, aumentando aqui mesmo na terra vosso amor por Ele, vos fará expiar em vida todos os vossos pecados. Deus é muito justo para deixar uma só ação boa sem recompensa, e, recompensando como Deus, dá sempre mais do que se lhe deu. Terminemos com estas palavras de Santo Ambrósio: «Tudo o que damos por caridade às almas do Purgatório converte-se em graças para nós, e, após a morte, encontramos o seu valor centuplicado.» O Purgatório é como um banco espiritual em que podemos depositar cotidianamente nossas boas obras, por menores que sejam; e aí estão em seguro e se multiplicam; e, quando nos vemos aflitos e inquietos, daí vem, como viria o rendi-mento de um dinheiro depositado, a luz, a força e a prudência que nos são preciosas em nossas dificuldades. Sejamos, pois, generosos, muito generosos.